Dia da Democracia: Antropólogo chancela a escolha de caciques dos povos Paiter Suruí por votação
A busca pela democracia é importante, tem relação de segundo nível, de aproximação com a sociedade.

Publicado 16/09/2021
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Celebrado neste 15 de setembro, o Dia Internacional da Democracia foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a intenção de trazer a reflexão sobre a importância do sistema nos países-membros. E para referenciar a data, o site publicou nesta terça-feira (14) uma reportagem sobre a inclusão do modelo de sistema eleitoral com votação na escolha do cacique e vice-cacique de uma aldeia indígena, localizada no interior do estado.

Hoje (15), ouvimos um antropólogo e pesquisador que chancelou a iniciativa dos povos tradicionais Paiter Suruí, que abortaram o sistema hereditário, de escolha dos seus líderes nas aldeias, e passaram a usar o sistema eleitoral com votação.

O professor Dr. Leonardo Lessin, docente da Universidade Federal do Acre (UFAC), com experiência na área de Antropologia, com ênfase em Etnologia Indígena, considerou que tradicionalmente, os povos indígenas, não necessitam ter a figura de um "chefe", pois esse papel foi imposto na época da colonização do Brasil, com a chegada dos europeus.

"Desde o início da colonização, os colonizadores queriam sempre saber dos chefes dos índios. Eles [Europeus] queriam sempre ver o reflexo das suas sociedades, então, os índios foram 'obrigados' a ter uma chefia (...) De certa forma, vejo essa questão das eleições democráticas como uma relação de segundo nível, uma aproximação com a sociedade brasileira", considera.

"Essa sociedade [indígena] também se transforma. Eles precisam da autoridade para se transformar. É normal ver elementos culturais, de outras culturas, nesses processos! Cito o exemplo do futebol. O futebol é inglês, mas nós [brasileiros] pegamos essa cultura pra gente (...) Por fim, o que acontece na tribo é que estão se transformando, gostaram da ideia de democracia, houve alguma exigência entre eles para adotar esse sistema", enfatiza.

Por fim, o pesquisador  assegura a adoção do sistema democrático como algo "bem melhor do que continuar a reproduzir a lógica imposta na colonização''. Afinal, foi o colonizador que exigiu que eles também tivessem um chefe". "Sem dúvida, tal modelo é o mais próximo original deles do que um modelo de "patrão" que foi imposto, que ficou mais forte na época da nossa colonização. Como pesquisador, eu acho muito interessante", defende.